quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Venho pedir à menina…

Os rapazes trabalhavam quase todos à jorna. Depois de largarem, confluíam para a fonte e ali ficavam, em roda, enxadas e sachos de lado, a comer as merendas. Só faltavam as raparigas, a razão daquele ajuntamento. Elas chegavam, com o cântaro debaixo do braço. Vinham à água para a ceia, a mando das mães.
À passagem de uma moça, atiravam-se as boas tardes ou uns piropos, a espreitar um brilhozinho no olhar ou um sorriso reprimido. Ela não parava, direita à bica da água. O interessado seguia-a, chamava-a, na esperança de um estugar dos passos, de um virar de cabeça, de umas palavras mais. Se a rapariga dava esperanças ou porque o rapaz era dos afoitos, ele atirava à moça:
“Por que venho, venho
E porque digo, digo
Venho dizer à menina
Se quer casar comigo”
A resposta adivinhava-se pela reação da pretendida, não por palavras, que não ficavam bem, ali, a uma moça com juízo. Isso seria mais tarde, noutro tempo e noutro local, se ela aceitasse passar aos rituais seguintes.
Em terra de filarmónica, também se faziam serenatas. Músico ou não, o pretendente podia rodear-se de amigos que soubessem tocar os instrumentos da banda ou outros. À noite, em frente à casa da sua amada, cantavam e tocavam, tentando derreter aquele coração empedernido.
Com muita lábia e passadas se chegava ao namoro, se os dois estivessem para aí virados. Primeiro na rua, para se conhecerem melhor e dar tempo à vizinhança e à família. Se o amor resistisse a este primeiro teste de controlo social, o rapaz pedia licença aos pais da namorada, para começar a namorar em casa dela. Mas sempre vigiada pelos irmãos mais novos ou pela mãe. E o namoro não se arrastava até tarde, para que a rapariga não ficasse falada.
Se o rapaz fosse de fora, pagava um cântaro de vinho, tremoços e sardinhas assadas, aos rapazes solteiros de São Vicente. Fazia-se uma patuscada e o forasteiro era aceite na comunidade.
Quem namora quer casar e por isso, rapaz e rapariga, cada um por seu lado, tratava de arranjar o que era costume cada um levar. Precisava-se, no mínimo, de um ano. O rapaz tinha de poupar dinheiro para comprar as mobílias do quarto (cama) e da sala (mesa e cadeiras). À rapariga, cabia a mobília da cozinha (cantareira, bancos, masseira, tabuleiro) e o enxoval (lençóis, fronhas, travesseiros, mantas, toalhas de rosto e de mesa), com a respectiva arca.
Numa casa de lavoura, a família plantava o linho, trabalhava-o até ser fio que a noiva tecia no tear da loja. As peças de pano de linho eram depois cortadas, cosidas e bordadas. As mantas faziam-se com fitas de panos velhos, também no tear.
Cerca de três meses antes do casamento, os pais do noivo iam a casa dos pais da noiva a pedir a mão da rapariga para o filho e a combinar a boda. Quantos convidados de cada parte, que cozinheira contratar, quantas reses e aves de capoeira seriam precisos e se comprados ou de produção própria. Tudo a meias. E o local da boda, em casa de um deles, se fosse grande, ou alugada.
Os convites faziam-se um mês antes do casamento e, na última semana, as duas famílias mobilizavam-se na feitura de bolos e doces: biscoitos, bolos de leite, esquecidos, cavacas e pães-de-ló. Eram para oferecer aos não convidados (vizinhos, amigos e pessoas ricas), agregando-os também à festa. O retorno esperado eram prendas para os noivos.
E chegava o dia do casamento. O noivo, acompanhado pelos convidados, dirigia-se à casa da noiva, onde era aguardado por ela e pelos seus convidados. Depois, em cortejo, seguiam para a Igreja, ele com a madrinha e ela com o padrinho.
O noivo vestia fato preto, camisa branca, gravata cinzenta, lenço branco no bolso do casaco e chapéu. A noiva trajava de fato de saia e casaco, preto ou de outra cor, ou vestido, que não tinha de ser branco, xaile e lenço na cabeça ou véu.
A cerimónia podia incluir missa ou não, conforme fosse dia de semana ou domingo. À saída da Igreja, saudavam-se os noivos com pétalas de flores.
Seguia-se a boda e as iguarias eram de estalo:
- Canja
- Carne assada e guisada
- Bifes com batatas fritas
- Arroz com carne
- Iscas de fígado
- Pastéis de carne
- Arroz-doce
- Vinho
- Chá
- Doces
Era o tirar a barriga de misérias, em tempos de muitas carências.
E começava uma nova vida, gerando outras, muitas vidas.


A foto é de um casamento na Meimoa (Penamacor), em 1933. Embora não pareça, a noiva tinha apenas 24 anos!

Em São Vicente da Beira, os jovens já se casavam por amor, na primeira metade do século XX. Os meus pais, António Teodoro e Maria da Luz (Prata), casaram há precisamente 60 anos, tal como Luís Rodrigues (Prata) e Tomázia da Conceição e ainda Joaquim Leitão e Emília Rosalina do Casal da Serra. O dia 30 de Dezembro calhou num sábado, em 1950. Só puderam casar depois do Natal, pois no Advento não se realizavam casamentos.
Esta crónica é uma homenagem aos pais e avós que viveram os rituais de amor aqui descritos.

Texto composto a partir da recolha de Maria Isabel dos Santos Teodoro, trabalho manuscrito, Escola Secundária de Alcains, 1985.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Tradições de Natal

Em Portugal, cruzam-se as tradições natalícias do sul e do norte da Europa. Da Itália, pelas mãos de S. Francisco de Assis, vieram-nos os presépios e o Menino Jesus, trazidos pelos franciscanos. Dos países nórdicos, sobretudo da Alemanha, são as tradições do Pai Natal (chamado assim pela sociedade de consumo norte-americana, mas tradicionalmente designado por São Nicolau), da árvore de Natal e dos presentes. Estas trazidas, para Portugal, pelo príncipe alemão D. Fernando, esposo da rainha D. Maria II (1834-1853).
Tencionava escrever um texto sobre este assunto, mas encontrei, no jornal PÚBLICO on-line, um excelente trabalho sobre a origem do nosso Natal. Aqui vo-lo deixo, com votos de Bom Natal.


O nosso Natal é como o dos príncipes do século XIX
Por Alexandra Prado Coelho

Foi D. Fernando II quem, nostálgico das tradições da sua infância, resolveu um dia fazer no palácio uma árvore de Natal para os sete filhos que tinha com a rainha D. Maria II, e distribuir presentes vestido de São Nicolau. Em Inglaterra, a rainha Vitória encantava-se com a mesma tradição, trazida pelo seu marido, Alberto, primo de D. Fernando. Pela mão dos dois primos germânicos nascia a festa de Natal como a conhecemos hoje.


Gravura de D. Fernando II com o rei vestido de S. Nicolau (J. Real Andrade/Fundação casa de Bragança)

Alguns dos principezinhos espreitam por detrás de uma cortina. Um outro, mais velho, está sentado numa cadeira, rindo, com as pernas no ar. Há um que parece tapar os olhos, como quem espera uma surpresa, e as duas meninas espreitam para dentro de um dos sacos da figura vestida de escuro que ocupa o centro da gravura. Ao fundo, sobre uma mesa, está, toda enfeitada, uma árvore de Natal.

Eram assim as noites de Natal da família real em meados do século XIX. D. Fernando II, marido da rainha D. Maria II e pai dos seus sete filhos, representava nas suas gravuras e águas-fortes o ambiente familiar, com ele próprio vestido de S. Nicolau a distribuir presentes. Mas o que é significativo na imagem é o facto de, segundo se crê, ela ser a primeira representação de uma árvore de Natal em Portugal.

D. Fernando era alemão. Com o seu primo Alberto, tinha passado a infância comemorando o Natal segundo a velha tradição germânica de decorar um pinheiro com velas, bolas e frutos. Por isso, quando começaram a nascer os seus filhos com D. Maria II - a rainha teve 11 gravidezes, mas só sete crianças sobreviveram, e a própria D. Maria morreu aos 34 anos, no parto do 11.º filho - D. Fernando decidiu animar o palácio com um Natal de tradições germânicas.

A rainha ficava encantada. Nas cartas à sua prima, a rainha Vitória falava com entusiasmo dos preparativos para a festa de Natal, que seria, aliás, muito semelhante à que Vitória (que tinha casado com Alberto) organizava no Castelo de Windsor, em Inglaterra.

"Nada, nem o ar amuado de D. Pedro [o primogénito e futuro rei D. Pedro V], conseguia estragar as festas de Natal", escreve Maria Filomena Mónica em O Filho da Rainha Gorda - D. Pedro V e a sua mãe, D. Maria II, conto que escreveu inicialmente para os netos e que foi depois editado pela Quetzal. "Na Alemanha, onde havia grandes florestas, era costume montar-se, nessa época, uma árvore, enfeitada com flores, bonecos e bolas. Em Portugal, o uso era antes o presépio, com o Menino Jesus nas palhinhas. Em 1844, D. Fernando resolveu fazer uma surpresa à família. Colocou em cima da mesa um pinheirinho, pondo ao lado os presentes."

Podemos imaginar o que seriam os presentes dos príncipes graças a outra gravura de D. Fernando que mostra o príncipe D. João, pequenino, com uma camisa de noite comprida e segurando um cavalinho na mão, a olhar para uma mesa enfeitada com a árvore de Natal, e rodeado de bonecos - um tambor, um estábulo com animais, um soldado de chumbo montado num cavalo. O Natal deixava de ser apenas uma festa religiosa e passava a ser uma festa das crianças.

A vida da família real

"O século XIX é fracturante em relação ao passado na promoção de uma nova visão do convívio da família", explica Nuno Gaspar, historiador e técnico do Palácio da Pena, em Sintra, onde preparou uma visita, realizada no ano passado, que tinha como tema o Natal da família real (embora, sublinha, durante a época do Natal, os reis e os filhos não estivessem na Pena, mas sim no Palácio das Necessidades, em Lisboa). "A tradição dos presentes não existia, sobretudo nos meios mais populares. Esta associação dos presentes que são trazidos pelos Reis Magos para oferecer ao Menino Jesus não existe antes. Pôr as crianças no centro das festividades do Natal é obra do século XIX."

Ao contrário do que acontecia anteriormente, é agora evidente uma intimidade muito maior entre pais e filhos - e os ambientes domésticos reflectem isso. Sobretudo o Palácio da Pena, onde D. Fernando pôde tornar realidade o sonho de qualquer romântico, nas salas indianas ou árabes, nos salões, nos quartos ricamente decorados, nos espaços mais pequenos para as noites em família, a ler, a tocar piano ou a brincar com as crianças, nas torres e num jardim com pontes, grutas, pérgulas e fontes.

"O homem do Romantismo não gosta de grandes espacialidades, prefere espaços acolhedores, quentes, que promovam a aproximação entre os indivíduos", acrescenta Nuno Gaspar. "A Pena é a expressão de uma modernidade, um espaço que tem que se prestar a acolher o tempo íntimo da família."Nos espaços públicos também se reflecte essa relação mais próxima entre pais e filhos, e vai-se criando a imagem de uma família real igual a todas as outras. Os reis e os príncipes passeavam no Passeio Público e conta-se mesmo que, um dia, D. Maria passeava com o príncipe D. Luís no Jardim da Estrela e, perante a relutância da criança em abraçar outro menino que ali brincava, ela o terá encorajado a fazê-lo.

A educação era marcada também pelo rigor. "Os infantes e os príncipes passavam muito tempo com os preceptores, mas os pais não se eximiam da sua função de educadores", diz o historiador. "Eles [os monarcas] viviam para os filhos, mas com alguma exigência", confirma José Monterroso Teixeira, especialista em História da Arte e da Arquitectura. "O rei institui a prestação de provas públicas e impõe um currículo prussiano, com um corpo de professores muito seleccionado."

O futuro rei D. Pedro V e os irmãos tiveram, assim, uma formação muito diferente da da mãe e mesmo do avô e tio-avô, D. Pedro e D. Miguel. "Nos dois anos que se seguiram à morte da mãe, D. Fernando pôs D. Pedro e D. Luís a viajar pela Europa", porque achava fundamental que eles conhecessem o mundo, explica Monterroso Teixeira.

Filomena Mónica conta o mesmo no seu livro: "Fora do Natal, os príncipes seguiam um horário de estudo disciplinado. O pai não era para brincadeiras. Sempre que podia, dava-lhes lições, sobretudo de Zoologia e Botânica. [...] Muito estudioso, D. Pedro começou logo a fazer exercícios de tradução. Aos 11 anos, foi sujeito, com êxito, a um exame diante dos pais. Estes, e os fidalgos que estavam presentes, ficaram admirados com a forma como ele fizera uma redacção em latim."

A rainha Vitória e Dickens

Os tempos livres eram também cheios de actividades. Na serra de Sintra (D. Maria II nunca chegou a viver na Pena, porque a obra ainda não estava terminada quando ela morreu, em 1853), conta Filomena Mónica, "de dia faziam piqueniques, à noite viam fogos-de-artifício, e às vezes a rainha organizava bailes. Em meados do mês, voltavam para Lisboa".

Os nobres, primeiro, e o povo, depois, vendo os hábitos da família real, entre os quais a tradição da árvore de Natal, começam a imitá-los. O mesmo se passa em Inglaterra. Não é por acaso que se fala em Natal vitoriano - muitas tradições que ainda hoje se mantêm nasceram nesta altura.

Em 1848, o Ilustrated London News publicou um desenho em que se vê a família real em torno de uma árvore de Natal, com a rainha Vitória e o príncipe Alberto a olhar para os filhos, que contemplam, fascinados, as luzes. A publicação da imagem (que, um ano depois, chegou aos EUA) teve um efeito imediato e em muitas casas começou-se a instituir a tradição da árvore (em Portugal, o desenho de D. Fernando não foi publicado por isso o processo terá sido mais lento).

"Hoje tenho dois filhos aos quais posso dar presentes e que, sem saberem bem porquê, estão cheios de um maravilhamento feliz perante a árvore de Natal germânica e as suas velas brilhantes. [A árvore] afectou profundamente o Alberto, que ficou pálido, tinha lágrimas nos olhos e apertou a minha mão com ternura", escreveu a rainha Vitória, segundo conta Anna Selby em The Victorian Christmas.

Ao longo do século XIX, outras tradições natalícias foram surgindo. Em 1843, Henry Cole pediu ao artista J. Calcott Horsley que desenhasse um postal de Natal - o desenho mostrava um grupo de pessoas a comer e a beber em volta da mesa de Natal e tinha escritos votos de Feliz Natal e Bom Ano Novo.

Nesse primeiro ano, imprimiram-se apenas mil, mas, nas décadas seguintes, generalizou-se o envio de cartões de Natal e desenvolveu-se uma indústria de decorações cada vez mais elaboradas. Com a árvore, chegou também a figura de S. Nicolau - que Fernando II encarnava para distribuir os presentes pelos filhos. Terá sido um editor de Nova Iorque, William Gilley, quem, em 1821, publicou um poema anónimo num livro infantil que falava em Santa Claus (o nome virá do holandês Sinterklaas) e no seu trenó puxado por renas. A imagem do Pai Natal como um velhote bonacheirão de barbas brancas carregando sacos de brinquedos surgiu também no século XIX pela mão do cartoonista americano Thomas Nast. Mas quem melhor terá descrito o espírito do Natal vitoriano foi Charles Dickens - não é por acaso que ficou conhecido com "o homem que inventou o Natal". Foi ele quem, em 1843, escreveu Conto de Natal, a história do velho e avarento Scrooge, e são os livros de Dickens que instalam definitivamente no nosso imaginário a imagem da véspera de Natal como uma noite fria, com o nevoeiro a invadir as ruas, e as casas acolhedoras e aquecidas, com a família reunida à volta de um peru e da árvore de Natal - a tal inovação que tanto entusiasmava toda a Europa e que, num texto publicado em 1850, o escritor descreve como "aquele bonito brinquedo alemão".

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As prendas do Menino Jesus

Um lume bem forte na casa escura e fria, mais a barriguinha cheia de filhoses e só faltava a fogueira e o presépio, para ter reunida toda a magia do Natal. A fogueira avistava-se lá ao fundo, na Praça, cone de fogo de onde subiam luzinhas. O presépio era na Igreja, nessa noite ou na missa do dia seguinte, quando fôssemos beijar o Menino Jesus.
As prendas do Menino Jesus não estavam ao mesmo nível: dois ou três rebuçados de papel transparente, uns tostões… uma pelintrice que não merecia esperanças e por isso nem chegava a ser o pesadelo do Natal. Nada que se comparasse ao ritual das filhoses, autêntica orgia de luz, calor e sabores!
Aposto que foi por isso que, anos depois, o Menino Jesus foi despedido. Comparar o tempo do Menino Jesus com o tempo do Pai Natal é dizer que a fome é igual à abundância. O Menino Jesus foi o pobretanas que desiludiu as crianças durante décadas, talvez séculos. A mesma promessa renovada cada ano e nada, pior, quase nada. Uma parvoíce, isto de acreditar em prendas de um bebé acabado de nascer num curral, filho de gente que nem posses teve para ficar numa hospedaria.
Os anos 60 foram os últimos do Menino Jesus e depois o velhinho das renas tomou conta da entrega dos presentes. Notaram-se logo melhorias no serviço e, na década de 80, o Pai Natal relegou o Menino Jesus para o mundo das histórias da Carochinha.
Talvez esteja a ser injusto com o Menino Jesus, ele que encheu de alegria um Natal da minha infância. Em 1967, o meu pai chegou da França carregado de prendas. Trabalhava nas obras para um patrão de Lyon e ele ofereceu prendas aos filhos de todos os operários. Ele não, o Menino Jesus, ou melhor, o Pai Natal, quase de certeza, pois a França era um país rico!
Certamente trazidas da longínqua Lapónia e entregues ao patrão do meu pai, as prendas chegaram à Tapada mesmo a tempo do Natal. Ficou o Menino Jesus com a fama, quase de certeza imerecida, pois ainda não nos chegara a notícia da existência do Pai Natal. Mas o proveito foi da pequenada lá dos altos.
Um boneco para a Eulália. De olhos claros e cabelo loiros espetados, a minha prima Santita viu nele parecenças com o Pe. Tomás e chamou-se Tomás. Eu recebi um comboio eléctrico. Linhas, locomotiva, carruagens, fios, tudo. Alguém explicou que os fios se ligavam a uma coisa chamada electricidade e o comboio andava sozinho. Ligar os fios só se fosse nos buracos da parede da quelha, onde eu e os meus primos passámos tantas horas, de joelhos na terra. Chão alisado e sem pedras, linhas unidas e o comboio não parava, sempre às voltas, pelas nossas mãos. Havia passageiros, mercadorias, nada faltava, nem a electricidade.
Por causa deste comboio e pelos presépios daqueles tempos, fico-me em cada Natal com as histórias da Carochinha, melhor dizendo, do Menino Jesus, pois nunca o traí com o Pai Natal.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Venham mais cem!

A nossa banda filarmónica teve um ano de arromba, pois cem anos só de fazem uma vez!
No próximo domingo, dia 26 de Dezembro, encerrará as Comemorações do Centenário, com um concerto e o lançamento de um livro e de um DVD.
Estamos todos convidados!



Nota: Informação do Dário Inês.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Mundo Rural

Ontem, participei na apresentação do livro MEMÓRIA E HISTÓRIA LOCAL Colóquio Internacional realizado em Idanha-a-Nova. Ele reune as actas do colóquio realizado a 19, 20 e 21 de Junho de 2009, em Idanha-a-Nova.
Na altura, noticiei este colóquio e apresentei o resumo da minha intervenção, que neste livro vem publicada.
Mas esta notícia não é motivada por este meu estudo. O objectivo é dar-vos a conhecer um trecho da intervenção final do Professor Doutor João Marinho dos Santos, coordenador do colóquio e deste livro. Já a ele me referi na publicação "A Terra do Futuro", a propósito da importância fundamental da agricultura na sobrevivência do mundo rural.
Aqui deixo a parte em que ele defende esta ideia:

«É sabido que as culturas rurais mediterrâneas, devido a condicionalismos naturais (solos arenosos ou pedregosos, declivosos, secos, ...) e a limitações no uso de técnicas avançadas, são, por regra, pobres, pelo que a emigração esteve sempre presente, historicamente, no horizonte dos seus habitantes. Assim, convirá adoptar uma estratégia de crescimento económico que utilize todos os factores ou recursos e os combine de modo a gerar uma evolução auto-sustentada. Porém, também convirá ter presente que a matriz das culturas rurais é agrícola (englobando-se, nesta designação, a agricultura, a pastoprícia e a silvicultura), pelo que a actividade primária terá sempre de persistir e conferir sentido permanente ao crescimento económico e ao desenvolvimento. É que o espaço ou o território não é neutro. Ele grava e manifesta a história dos homens (os seus modos de vida, os seus comportamentos, as suas crenças), através de inúmeros vestígios, que a memória, a arqueologia e a história como ciência se encarregam de detectar e interpretar. Compete a cada geração de homens reconhecer-se nesses vestígios e dar continuidade à vida, renovando o património legado, preservando-o, reutilizando-o, rentabilizando-o, mas sem desvirtuar esse legado, conforme dissemos. Vem isto a propósito de lembrar que não será, só, pela reutilização, para fins turísticos, das nossas aldeias que se valorizará o mundo rural. O turismo poderá e deverá ser um complemento (revertendo, em parte, para o agricultor); mas, não poderá ser, nunca, o factor vital das culturas rurais populares. Sem agricultores, não haverá paisagens campestres humanizadas e cessarão, por completo, as autênticas manifestações de cultura popular. Logo, cair-se-á num turismo fraudulento, se faltar a infra-estrutura agrícola e artesanal.»

João Marinho dos Santos, O factor cultural no desenvolvimento e a finalidade cultural do desenvolvimento - especificidades da Beira Interior, em MEMÓRIA E HISTÓRIA LOCAL, Colóquio Internacional realizado em Idanha-a-Nova, p. 428.


Ficha técnica:
Título: MEMÓRIA E HISTÓRIA LOCAL, Colóquio Internacional realizado em Idanha-a-Nova
Coordenação: João Marinho dos Santos e António Silveira Catana
Co-edição: CHSC - Centro de História da Sociedade e da Cultrura; Município de Idanha-a-Nova; Palimage
Autores: Vários
Local e data: Coimbra 2010.
Preço: 30 euros.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Prata 2

Os avós mais novos



Ana Prata (1887-1963) era filha de António Prata e Maria Castanheira. Casou com Miguel Rodrigues, em 1908, filho de João Rodrigues e Maria Rosário dos Santos.



João Prata (1885-1977) era filho de António Prata e Maria Castanheira.



João Prata casou com Doroteia de Jesus dos Santos, em São Vicente da Beira, no ano de 1911. Doroteia era filha de Guilherme dos Santos e Antónia dos Santos.


António Prata casou com Maria Castanheira, a 19 de Novembro de 1884, em São Vicente da Beira.
António Prata tinha 45 anos e estava ainda solteiro. Era ferreiro de profissão e natural e morador na Póvoa de Rio de Moinhos, filho de João Prata e de Joaquina da Cruz, ambos naturais também da Póvoa.
Maria Castanheira tinha 40 anos e ficara viúva de José de Carvalho (S. Vicente da Beira), falecido em Abril desse ano de 1884. Já enviuvara de anterior casamento, no Souto da Casa, sua terra natal. Era filha de António Castanheira e de Rosária Maria.

Nota: clicar nas imagens, para ler os documentos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gripe A, outra vez

A vírus H1N1, o culpado da Gripe A e da Penumónica de 1918, está de volta. Deixo-vos com a notícia do jornal Diário de Notícias de hoje, versão on-line.

Mortes no Reino Unido deixam Portugal em alerta
Por ANA MAIA

H1N1 matou dez pessoas em seis semanas e deixou várias internadas nos cuidados intensivos. Gripe no nosso país está a aumentar.

O Reino Unido registou dez mortes, em seis semanas, associadas à gripe A. Em Portugal, a actividade gripal ainda é reduzida, mas está a crescer com as temperaturas mais baixas. A Direcção-Geral da Saúde vai emitir uma nota entre hoje e amanhã, apelando à vacinação.
Apesar da baixa incidência da gripe, o Reino Unido já registou dez mortes provocadas pelo H1N1 e as unidades de cuidados intensivos têm um elevado número de doentes internados com problemas respiratórios. Situação que surpreendeu as autoridades de saúde daquele país. A Agência de Protecção da Saúde do Reino Unido revelou que metade dos mortos não tinha tomado a vacina.
O que se está a passar no Reino Unido está a deixar os restantes países da Europa em alerta. Incluindo Portugal, que começa a registar um aumento de casos de gripe. Ainda assim, de acordo com os dados do Instituto Ricardo Jorge, apenas um caso de gripe pandémica foi detectado no nosso País. Um cenário que pode mudar nas próximas semanas.
"O que está a acontecer no Reino Unido pode acontecer em Portugal. Temos a vantagem de estarmos separados temporalmente deste tipo de acontecimentos duas a três semanas. Isto significa que temos de reforçar a nossa taxa de vacinação e que os profissionais têm de manter um nível elevado de suspeita perante casos de infecção respiratória grave e pedir a confirmação laboratorial da presença do H1N1. Em caso de dúvida deve avançar-se com a terapêutica", disse ao DN Filipe Froes, médico pneumologista.
Para o médico, o que está a acontecer no Reino Unido "mostra que ainda há muitas pessoas em risco de contrair a doença e algumas delas na sua vertente mais grave".
Razão pela qual no início desta semana a Direcção-Geral da Saúde emitirá uma nota sobre a gripe. "Iremos fazer amanhã [hoje] ou depois um alerta aos serviços para recordar que as pessoas devem vacinar-se e os cuidados de higiene que devem ter. O vírus permanece semelhante ao ano passado e é previsível que mantenha o mesmo comportamento", disse ao DN Graça Freitas, subdirectora-geral de Saúde, admitindo que possam acontecer algumas mortes provocadas pelo H1N1.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Hopital da Misericórdia

Sessão ordinária em 8 de Dezembro de 1918

Aos oito dias do mês de Dezembro do ano de mil novecentos e dezoito, n´esta vila de S. Vicente da Beira e sala destinada ás sessões da Gerencia da irmandade da Misericórdia d´esta mesma vila,pelas treze horas, estando presentes os cidadãos Eusebio Gomes Barroso, Provedor, João Mesquita, tesoureiro, João da Silva, secretario e os mesarios Manuel Roque e Francisco Duarte, aberta a sessão, foi lida e aprovada a acta da sessão anterior. O Provedor e vogais da mesa deliberaram que, antes de tudo fosse exarado n´esta acta o seguinte:
Não sendo de prever que as povoações d´esta freguesia fossem atacádas pela epidemia reinante tão rapidamente como foram, nem podendo resolver-se cousa alguma na sessão de dez de Novembro, que não se realizou por grassar já, com toda a intensidade, a epidemia e caírem com ela quase todos os membros da mesa e, em razão das circunstancias anormáes e angustiosas com que luctava a pobreza, tornando-se de urgente e absoluta necessidade, durante o período da doença internar no hospital um numero superior de doentes ao que em sessões anteriores se havia determinado, como então, por força dessas circunstancias extraordinarias e admitissem dez ou mais, a gerencia administrativa aprovada hoje por unanimidade o que se fez.
E bem assim aprova o augmento do preço da carne que em Outubro ultimo preterito foi de mais cinco centavos o kilo e passou depois em Novembro e nos demais a ser de dez centavos, por terem declarado os indivíduos do talho que não podiam continuar a fornecer a casa por menos.
Aprovaram ainda os pagamentos seguintes
(alterou-se o aspecto gráfico deste parágrafo):
• Ao Reverendo João Fernandes Santiago do oficio funebre pelos irmãos defuntos, doze escudos;
• a Manuel Simão de um dia de trabalho a traçar lenha, oitenta centavos;
• a Francisca Faustina de quinze quilos de batata, um escudo e cincoenta centavos;
• a diversos pobres de esmolas com que foram subsidiados, nove escudos e cincoenta e tres centavos;
• a Manuel Diogo de três kilos duzentas e cincoenta gramas de banha de porco, quatro escudos e noventa e cinco centavos;
• a Crestina da Conceição de dois dias de lavagem de roupa, sessenta e oito centavos;
• a Ambrosio Diogo de quatro kilos de toucinho, seis escudos e quarenta centavos;
• aos empregados do hospital de ordenados do mes de Novembro, trinta e dois escudos;
• a Viriato Lopes Russo de medicamentos fornecidos no dito mes, sessenta e dois escudos e setenta e tres centavos;
• aos fornecedores de pão, carne e leite, idem, cincoenta e sete escudos e sessenta e nove centavos;
• a Francisco Lourenço de mais dezasseis litros de leite, um escudo e sessenta centavos
• e de Maria Celeste Silva de mercearias e outros artigos quinze escudos e trinta e oito centavos.
Apresentou-se o balancete do referido mês de Novembro, verificando-se que a receita foi de setecentos setenta e seis escudos e dez centavos e a despesa de duzentos e cinco escudos e vinte seis centavos, resultando um saldo que transita para o mês seguinte de quinhentos setenta escudos e oitenta centavos. E não havendo mais nada a tratar se encerrou a sessão pelas quinze horas.

(Seguem-se as assinaturas dos participantes)


Algumas notas:
1. A esta sessão, faltaram os mesários Antonio da Silva Lobo e Joaquim dos Santos.
2. Na época, o farmacêutico da vila era Viriato Lopes Russo. A sua filha Maria Isabel (Belinha) casou com António Lourenço de Azevedo (Toninho Lourenço) e viveram no solar construído no local do antigo convento franciscano.
3. Maria Celeste Silva era a esposa de Manuel da Silva, que então se encontrava, com outros vicentinos, a participar na Primeira Guerra Mundial.
4. Esta guerra provocou uma grave crise económica, a qual acabaria por ser a principal causa do derrube da Primeira República. A acta informa sobre o aumento do preço da carne, em cinco centavos, em Outubro, e dez centavos, em Novembro.
5. Em 1918, 1 litro de leite custava 10 centavos, no produtor; 1 quilo de batatas também 10 centavos; 1 quilo de toucinho custava 1 escudo e 60 centavos. Em Junho, o preço do toucinho ainda era de 1 escudo e 20 centavos, mais uma prova da carestia de vida.
6. Nesse ano, um trabalhador braçal ganhava 80 centavos/dia e uma mulher a lavar roupa 34 centavos /dia.
7. De facto, a sessão de dez de Novembro não se realizou, por estarem doentes quase todos os membros da Gerência, assim como muitos funcionários do hospital.
8. A Misericórdia subsidiava os pobres e também pagava ao coveiro, pelas covagens (abertura da sepultura) feitas aos pobres falecidos. Por exemplo, na sessão de 30 de Junho deu-se ordem de pagamento de vinte centavos, ao coveiro Manuel Rodrigues, «...pela covagem feita a um pobre....».
9. Embora o segundo parágrafo não seja bem perceptível, entende-se que, durante a Pneumónica, o número de internados no hospital subiu para 10, número superior ao que dantes estava estabelecido pela Gerência.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pneumónica 4

Conclusões
Apresentam-se algumas conclusões sobre a incidência da Gripe Pneumónica de 1918, na freguesia de São Vicente da Beira. Conclusões forçosamente parciais, pois o estudo ainda não está terminado.

1. A Gripe Pneumónica é a mesma que agora denominamos por Gripe A.

2. A Gripe Pneumónica atacou Portugal por três vagas: final da Primavera e início do Verão de 1918, Outono de 1918 e Inverno/Primavera de 1919, mas apenas a segunda provocou grande mortalidade.

3. A nível nacional, foi no mês de Outubro que se registou a maior mortalidade. Mas, na freguesia de S. Vicente da Beira, o mês de Novembro foi o mais mortífero.

4. A média dos óbitos de 1917-1919 foi de 4,8 mortes por mês, exceptuando os meses da Pneumónica, em que os óbitos subiram para 20, em Outubro, e 66, em Novembro.

5. Portugal Continental teve uma taxa de mortalidade de 1,08%, com um máximo de 7% em Benavente, Ribatejo. A freguesia de S. Vicente da Beira registou uma taxa de mortalidade de cerca de 2,40%, uma percentagem superior à média nacional.

6. A Gripe Pneumónica entrou na freguesia pelo Tripeiro, S. Vicente e Casal da Serra, povos onde se registaram mais óbitos, em Outubro. No mês seguinte, continuou a fustigar o Casal da Serra e S. Vicente, mas provocou enorme mortandade também na Partida. As restantes povoações, excepto o Tripeiro, a Paradanta e Pereiros, registaram poucas mortes.

7. Na época, S. Vicente, Partida e Casal da Serra eram as povoações maiores da freguesia (ver publicação “Curiosidade Demográfica”, do passado 31 de Outubro). Tal facto não justifica, só por si, uma maior mortalidade. Esta ter-se-á devido, também, ao facto de as pessoas estarem mais juntas e por isso transmitirem a gripe umas às outras, mais facilmente.

8. A Paradanta é a excepção que nos impede de concluir que a Gripe atacou as povoações maiores e localizadas em corredores viários. No entanto, este povo situa-se num corredor formado pelos vales de dois ribeiros, que eram locais de passagem. Um corre para oeste, para a Partida, onde, com outros, forma a Ribeira do Tripeiro, e o outro corre para nordeste, pelo Vale D´Urso e Castelejo.

9. O Vale de Figueiras não teve óbitos nestes meses, e o Violeiro e o Mourelo sofreram mortalidades muito aquém do que seria normal, em povos com da sua dimensão.

10. Durante a Gripe Pneumónica, as 10 camas do Hospital da Misericórdia só receberam doentes da Vila e a elite local não foi ali internada (terá pago consultas a domicílio). Desconhecemos se o internamento unicamente de pessoas de São Vicente se terá devido a uma proibição de deslocação de doentes ou se, simplesmente, os familiares optaram por não sujeitar os doentes a grandes deslocações, por falta de esperança na cura ou para não agravar o seu estado de saúde. A documentação do Hospital nada refere sobre uma proibição, interna ou externa, de internamento de doentes de fora da Vila.

11. Na povoação de São Vicente, o internamento no Hospital terá atenuado a mortalidade, pois dos 29 doentes ali internados com Gripe Pneumónica, apenas 4 faleceram. A excepção terá sido Maria de Jesus Hipólito, esposa do enfermeiro do Hospital, que possivelmente contraiu o vírus através do seu marido.

12. Em 1918, o único cemitério da freguesia era o de São Vicente, certamente sem capacidade para receber tantos mortos. Sabemos que, no Casal da Serra, foram sepultados num terreno à esquerda da antiga capela, localizada no início da Rua da Lagariça. Situações semelhantes terão ocorrido noutros povos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

1.ª Conferência do Agro-Alimentar

Nem a propósito (publicação "Terra do Futuro" do passado dia 26 de Novembro), o Jornal do Fundão organizou, no dia 3 de Dezembro, a 1.ª Conferência do Agro-Alimentar, com a colaboração do Citeve Alimentar e da Câmara Municipal do Fundão.
Neste fim de semana, o Jornal do Fundão publicou um suplemento sobre o tema, de onde transcrevo dois trechos da entrevista ao director-geral do Citeve:

«...temos a convicção que o potencial da região da Beira Interior, dentro do sector agro-alimentar, é muito grande.»

«Sobretudo é (o agro-alimentar) um motor de desenvolvimento local. Sabemos que este sector é caracterizado por uma enorme quantidade de empresas de pequena dimensão, que têm uma importância muito grande ao nível do emprego e das economias locais.»

sábado, 4 de dezembro de 2010

Gardunha de Branco

Há uma semana que não pára de nevar a norte da Gardunha, mas a sul, nada.
Têm razão os que dizem ser a serra da Gardunha a divisão natural entre o norte montanhoso e frio e o sul plano e quente.
O Dário Inês foi aos altos da nossa serra e mandou-me fotos. Aqui deixo algumas.













sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Menino ou Menina?

No início de cada ano letivo, sempre que me calham turmas novas, tenho alguma dificuldade, na primeira aula, em saber se determinados alunos são meninos ou meninas.
Quase todos têm carinhas bem nutridas, cabelos sedosos e compridos, com franjinhas à maneira, calças de ganga e brincos/piercings. Só depois de alguns dias e muitos protestos é que consigo fazer totalmente a distinção dos sexos.
Mas esta história passou-se há muitos anos, no tempo em que apresentar-se como rapaz ou rapariga era uma questão muito séria!
Não sei o que levou a minha mãe à Covilhã, no tempo frio, mas voltou da sua visita à minha tia Santa com duas canadianas lindíssimas. Uma era para mim, cor de mel, nunca tinha visto coisa mais bonita.
Mas a minha irmã Eulália recebeu uma igualzinha! Fiquei chocado. Como iria eu apresentar-me na Escola, com roupa igual à de uma menina? Seria motivo de gozo para toda a rapaziada.
Disse à minha mãe que não a queria e porquê. Ela repetiu-me o que a tia Santa lhe explicara: roupa unissexo. Achei aquilo uma esquisitice da Covilhã e mantive-me na minha.
Deixei a minha mãe ralada para o resto do dia, pois o dinheiro era tão pouco e a jaja tão linda! Eu acabaria por habituar-me!
No dia seguinte, à partida para a Escola, lá estava a canadiana para eu vestir, já com a Eulália vestida de igual. Que não e não. Todos iam rir-se de mim e chamar-me menina!
Depois de tentar vestir-me, com palavras ralhadas, a minha mãe chamou o meu pai e entregou-lhe o caso. Desabituado de resolver questões daquelas, terá ficado à rasca. Teimou com palavras e depois passou à ação: dei voltas pela sala, no ar e pelo chão, sentia-me tonto, aflito, chorava, gritava. As minhas irmãs à porta do balcão, à minha espera, atónitas com o que viam. Acabei prostrado no chão e muito choroso.
As minhas irmãs foram mandadas para a Escola e eu para a cama, onde fiquei toda a manhã, a curar o nervosismo e as dores de alma, pois no corpo não tinha nenhuma. Ainda hoje não percebi como é que o meu pai fez para me meter tamanho cagaço sem me magoar.
No dia seguinte, lá vesti a maldita canadiana, cheio de vergonha. Cheguei à Escola muito afastado da Eulália, com medo que os rapazes vissem a minha irmã vestida de igual. Sempre que a vestia, nunca íamos juntos.
A canadiana era bonita, mas nunca gostei de a vestir e felizmente tinha muitas irmãs que a acabaram de romper.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pneumónica 3

Óbitos de Novembro
Apresentam-se, hoje, os óbitos de Novembro de 1918, aquando da Gripe Penumónica. Os nomes das pessoas estão copiados tal como foram escritos nos registos da Igreja Matriz de S. Vicente da Beira.

01-11-1918: Maria Rita Raymundo, de 80 anos, viúva de Jose Raymundo, natural e moradora em S. Vicente da Beira.

01-11-1918: Maria da Anunciação, de 40 anos, casada com Francisco Marcelino, moradora no Casal da Fraga, São Vicente da Beira.

01-11-1918: Francisco Jeronymo, de 26 anos, cultivador, casado com Maria da Luz Romualdo, natural e morador em São Vicente da Beira. Faleceu no Hospital.

01-11-1918: Domingos Leonardo, de 23 anos, solteiro, guarda republicano, filho de Antonio Leonardo e Antonia Raposa, morador na Partida.

01-11-1918: Maria de Jesus, de 29 anos, solteira, costureira, filha de Joaquim Antunes e Joaquina Maria, natural dos Pereiros.

02-11-1918: Jose Alves Páscôa, de 49 anos, jornaleiro, natural do Violeiro, filho de Antonio Alves Páscôa e Carolina Maria, já falecidos.

02-11-1918: Maria Rosalina, de 24 anos, solteira, natural da Partida, filha de Joaquim Gonçalves e Maria Rita, moradores no mesmo povo.

02-11-1918: Ana Josefa, de 40 anos, natural e residente nos Pereiros, filha de João Antunes e Josefa Santos, naturais e moradores no mesmo povo.

02-11-1918; João Caetano, de 35 anos, casado com Ana Serra, cultivador, filho de Simão Caetano e Maria Ana, todos naturais do Casal da Serra.

03-11-1918: Theodora Marques, de 63 anos, solteira, costureira, filha de Joaquim Marques e Theodora dos Santos, naturais e moradores em São Vicente da Beira.

03-11-1918: Filippe Miguel, de 32 anos, filho de Antonio Lino Lopes e Maria José Nunes, todos naturais e moradores em São Vicente da Beira.

03-11-1918: João Frade, de 27 anos, serrador, casado com Antonia Maria, natural dos Pereiros e a viver na Partida, filho de João Frade e Ana Frada, moradores na Partida, de onde são naturais.

03-11-1918: Maria de Jesus, de 12 anos, natural do Casal da Serra, filha de Simão Caetano e Maria Joaquina, ambos moradores no mesmo povo.

03-11-1918: Antonio Martins, de 7 anos, filho de Antonio Martins e Lucia Craveiro, naturais e moradores no Casal do Baraçal, São Vicente da Beira.

04-11-1918: Francisco Pereira, de 65 anos, viúvo de Maria Joana, natural e morador em São Vicente da Beira.

04-11-1918: Joaquim da Silva Lobo, de 38 anos, jornaleiro, casado com Carolina Barata, filho de Antonio da Silva Lobo e Maria dos Santos, naturais e moradores no Casal da Fraga, São Vicente da Beira.

04-11-1918: João dos Reis Alves, de 27 anos, cultivador, natural e residente nos Pereiros, filho de Manuel Alves, jornaleiro e Francisca Maria, naturais e moradores no mesmo povo.

05-11-1918: Maria de Deus, de 7 meses, filha de José Báu e Maria do Carmo, naturais e moradores em São Vicente da Beira.

05-11-1918: Manuel Lourenço, de 4 anos, filho de João Lourenço e Izabel Maria, naturais e moradores no Mourelo.

05-11-1918: Antonio Alberto, de 19 meses, filho de Alberto Venancio e Angelina Fernandes, naturais e moradores no povo da Partida.

05-11-1918: Julia Fernandes, de 14 anos, filha de Joaquim Martins e Antonia Fernandes, todos naturais e moradores na Partida.

06-11-1918: Maria Augusta, de 50 anos, jornaleira, casada com José Simão, naturais e moradores em São Vicente da Beira.

06-11-1918: Bento Venancio, de 7 anso, filho de Antonio Maria Venancio e Ana Joaquina, todos naturais e moradores na Partida.

06-11-1918: Jose Leitão, de 5anos, filho de João Leitão e Maria do Rozário, todos naturais e moradores na Partida.

06-11-1918: Antonio Lourenço, de 44 anos, casado com Maria Felicia, natural da Partida, filho de João Lourenço e Maria Vitoria, também moradores na Partida.

07-11-1918: Filomena Nunes, de 30 anos, casada com Amandio Barroso, natural do Casal da Serra, filha de Joaquim Gama e Rosa Nunes, naturais e moradores no mesmo povo.

08-11-1918: João Castanheira, de 45 anos, caiador, casado com Antonia Pereira, filho de Francisco Castanheira e Ana de S. José, todos naturais e moradores em São Vicente da Beira.

08-11-1918: João Agostinho, de 19 anos, jornaleiro (sardinheiro, segundo o registo do Hospital), filho de André Agostinho e Maria da Conceição, naturais e moradores em São Vicente da Beira. Faleceu no Hospital.

08-11-1918: Maria dos Anjos, de 25 anos, filha de João Antunes Amendôa, natural da Partida e domiciliada no Ribeiro de Dom Bento, São Vicente da Beira.

08-11-1918: Maria Pedra, de 18 anos, natural da Torre e moradora nos Pereiros, filha de João Lucas e Joaquina Pedra, moradores nos Pereiros.

09-11-1918: Ana da Ascensão, de 3 anos, natural da Partida, filha de Alberto Venancio e Angelina de Jesus, moradores no mesmo povo.

09-11-1918: Maria Antonia, de 30 anos, solteira, natural de São Vicente da Beira, filha de Francisco Pereira e Maria Joana, já falecidos.

09-11-1918: João Duarte Romualdo, de 35 anos, proprietário, morador no Ribeiro de Dom Bento, São Vicente da Beira, filho de Joaquim Duarte Romualdo e Maria Martins desta vila.

09-11-1918: Francisco Lucas, de 4 anos, filho natural de Filomena Lucas, natural e moradora em São Vicente da Beira.

09-11-1918: Beatriz de Jesus, de 18 anos, natural dos Pereiros, filha de Antonio Martins e Ana Varanda, moradores no mesmo povo.

10-11-1918: Maria Jose, de 16 anos, filha de Jose Sarnada e Maria Rosa Santos, naturais e moradores no Casal da Serra.

10-11-1918: Josefa Maria, de 80 anos, viúva de Francisco Alves, natural e moradora na Partida.

11-11-1918: Manuel Martins Paiagua, de 50 anos, ganhão, casado com Rita Maria, moradores no Casal do Baraçal, São Vicente da Beira, filho de José Martins Paiagua e Emilia Maria.

11-11-1918: Alberto Venancio, de 33 anos, casado com Angelina de Jesus, morador na Partida, filho de Antonio Venancio e Maria Rozario, do mesmo povo.

11-11-1918: João Martins Leitão, de 39 anos, casado com Maria Rozaria, natural da Partida, filho de Manuel Leitão e Josefa Maria, do mesmo povo.

12-11-1918: Maria Izabel, de 9 anos, filha de José João e Izabel Maria, naturais e moradores na Paradanta.

13-11-1918: Maria José Patricio, de 15 anos, filha de Joaquim Matias e Ana Patricio, moradores em São Vicente da Beira.

13-11-1918: Manuel Francisco, de 4 anos, filho de Francisco Carrilho e Albina Maria, naturais e moradores na Partida.

13-11-1918: Manuel de Jesus, de 8 anos, filho de João Alves e Maria Inês, moradores nos Pereiros.

13-11-1918: Maria dos Anjos, de 4 anos, filha de Manuel Duarte Romualdo, proprietário, e Maria Balbina, moradores no Ribeiro de Dom Bento, São Vicente da Beira.

14-11-1918: Sebastião Amoroso, solteiro, de 80 anos, natural e morador no Casal da Serra, filho de Manuel Caetano e Maria Amorosa, naturais do mesmo povo.

14-11-1918: Maria do Nascimento, de 35 anos, casada com Joaquim Teodoro, moradores no Casal do Baraçal, São Vicente da Beira, filha de Manuel Marques e Ana Maria.

14-11-1918: Cesar Marques Neto, de 13 anos, seminarista, natural de São Vicente da Beira, filho de Antonio Marques, já falecido, e de Maria Neto Raposo.

15-11-1918: Francisco Frade, de 25 anos, solteiro, serrador, filho de Antonio Frade e Maria Freire, naturais e moradores na Partida.

15-11-1918: Ana da Ressurreição, de 2 anos, filha de Manuel da Cruz e Maria de S. João, naturais e moradores no Casal da Serra.

15-11-1918: Maria Celeste, de 18 anos, solteira, filha de Manuel Paulo e Maria Felicia, moradores no Tripeiro.

16-11-1918: Leopoldina Maria, de 60 anos, casada com Domingos Jacinto, filha de pais incógnitos, moradora na Paradanta.

16-11-1918: João Lourenço, de 7 anos, filho de Antonio Lourenço e Maria Felicia, moradores e naturais da Partida.

16-11-1918: Silvestre Serra, de 24 anos, casado, natural do Casal da Serra, filho de Luciano Serra e Ana Barrosa, moradores no dito casal.

16-11-1918: Maria Filomena, de 4 anos, filha de João Alves e Maria Inês, naturais e moradores nos Pereiros.

17-11-1918: Joaquim Varanda, de 64 anos, casado com Maria Balbina da Conceição e morador no Tripeiro, filho de Joaquim Varanda e Ana Moreira.

17-11-1918: Joaquim Martins, de 2 meses, filho de Augusto Martins e Maria Calmôa da Silva, moradores em S. Vicente da Beira.

17-11-1918: Antonio Filipe Salvado, de 23 anos, proprietário, solteiro, filho de João Filipe e Joaquina Maria, naturais e moradores na Paradanta.

18-11-1918: Maria de Jesus Hipólito, de 35 anos, casada com Joaquim Caio, funileiro, moradores em S. Vicente da Beira. Era filha de Joaquim Hipólito de Jesus e Maria Antonia, da mesma vila. Faleceu no Hospital.

18-11-1918: José Amandio, de 5 anos, filho de Amandio Barroso e Filomena Nunes, moradores no Casal da Serra.

19-11-1918: Justina Maria, de 14 anos, filha de José Bartolomeu, cultivador, e Maria Justina, moradores na Partida.

21-11-1918: Maria, de 10 meses, filha de José Lopes e Maria Justina, naturais e moradores na Partida.

22-11-1918: Manuel Bento, de 10 dias, filho de Antonio Maria Venancio e Ana Joaquina, moradores na Partida.

24-11-1918: Maria Carlota, de 6 meses, filha de José Simão e Ana Maria, moradores em S. Vicente da Beira.

26-11-1918: Bernardo Candeias, de 24 anos, jornaleiro, solteiro, filho de Manuel Candeias e Maria do patrocínio, moradores no Casal da Serra.

26-11-1918: Maria Matias, de 40 anos, filha de Domingos Leitão e Maria Matias, todos naturais e moradores na Partida.

26-11-1918: Antonio Rato, de 14 anos, filho de José Rato e Josefa Maria, naturais e moradores no Violeiro.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Terra do Futuro


Numa das minhas últimas idas a São Vicente, várias pessoas me expressaram a sua angústia pelo rumo que a nossa terra está a tomar. Uma queixou-se de não haver médico todos os dias, às vezes nem uma vez por semana, outra de o pároco residir em Almaceda. Por esses dias, também o Presidente da Junta partilhou comigo a sua preocupação pelos resultados do próximo censo, a iniciar no mês de Março. Nalgumas localidades da freguesia, tem havido uma autêntica sangria de gente jovem que opta por ir viver para fora, sobretudo nos centros urbanos.
Não há padres e médicos suficientes para manter as realidades do passado, mas também é verdade que a freguesia de S. Vicente da Beira não tem a população que teve durante o século XX. Poucas ruas de S. Vicente têm mais do que duas ou três famílias residentes e é habitual percorrer algumas e não ver vivalma.
E, de certa forma, era difícil fazer melhor, nos últimos anos: criação da EBI, como centro escolar regional; reconversão do Hospital em Lar e Creche; fundação da empresa Fonte da Fraga; abertura da delegação de Bombeiros. No seu conjunto, estas novas instituições garantem o ganha-pão a muitas famílias!
Mas as crianças são cada vez menos e o benefício da criação da EBI pode estar preso por um ténue fio de alguns anos. Enquanto as povoações a menos de 20 km de Castelo Branco sustiveram o declínio, pela sua transformação em dormitórios da cidade, S. Vicente da Beira fica demasiado longe para compensar o ir e vir.
O turismo regional é débil, mas há gente e povoações com projectos de sucesso. Nós, nem projecto ainda temos. A Senhora da Orada é um dos locais da região com maiores potencialidades turísticas (património religioso, artístico, histórico, paisagístico), mas sinto um virar de costas. As obras de requalificação do espaço envolvente, sanitários e bar, há tanto prometidas, ficaram esquecidas nos gabinetes. O altar-mor, talvez o mais bonito altar da freguesia, trazido da Igreja de Francisco do convento feminino, continua a apodrecer e brevemente a sua perda será irreversível.
Mas o futuro está na terra. Não só a agricultura de subsistência, de agricultores de fim de semana ou mesmo daqueles que lá moram, mas ganham a vida noutra actividade. Esta agricultura, que nos dá os sabores com que fomos criados, é muitíssimo importante, tanto em termos de qualidade alimentar como de poupança. Mas não fixa ninguém. Se não houver uma outra fonte de rendimento, as pessoas partem, como continuam a partir.
A ideia não é minha, ouvi do Professor Marinho Santos, natural das Sarzedas e catedrático na Universidade de Coimbra. Defendia ele que o mundo rural só tem futuro se a agricultura não morrer e eu acrescento que ela tem de ser a principal fonte de rendimento dos moradores das nossas aldeias.
Em Castelo Branco, consomem-se sobretudo hortaliças e frutas espanholas, mas as terras férteis dos nossos vales ribeirinhos estão parcialmente abandonadas. No entanto, as nossas frutas (cerejas, maça bravo de esmolfe…) e legumes são de excelente qualidade. E é com o leite das nossas ovelhas que se fazem alguns dos prestigiados queijos regionais. Já em 1889, João dos Santos Vaz Raposo levou o nosso azeite à Exposição Universal de Paris e veio de lá galardoado.
A I Feira de Gastronomia e Artesanato, a todos os títulos exemplar, como aqui escrevi, teve também o dom de pôr a nu as nossas fragilidades: os nossos standes pareciam os de um centro urbano, em que a indústria e os serviços predominam. Queijo, feijão, chouriços e vinhos foram vendidos por produtores do Sobral, Ninho…
Sei que não é fácil e que nem agricultor de fim de semana chego a ser, para ter a veleidade de falar com autoridade. Também sei que produzir para o mercado exige uma boa planificação prévia, sob pena de ter de lançar fora e ir imediatamente à falência.
Mas a terra está a dar bom rendimento na região. A comunicação social (Jornal do Fundão, Reconquista, Visão) tem, nos últimos dois anos, feito eco de excelentes experiências agrícolas nas duas vertentes da Gardunha, tanto no ramo da fruticultura como da produção de hortícolas. Algumas delas, de jovens agricultores, são um verdadeiro sucesso.
Nesta época de crise e desemprego, temos de olhar para a terra como uma fonte de rendimento, como uma solução de futuro. Até os políticos voltam a falar no regresso às indústrias familiares e à actividade agrícola. É uma boa solução para o país e, para nós, é na terra que está o futuro, sob pena de não termos futuro, como comunidade.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Óvnis na Gardunha?

A revista VISÃO desta semana (N.º 924, 18 a 24 novembro 2020) trouxe-nos à lembrança os fenómenos óvnis na serra da Gardunha. O artigo da revista (2012 A profecia lusitana, pp. 98-110) vai mais longe e situa, na Penha Grande, um dos portais de acesso ao Reino de Lis, um mundo paralelo ao nosso.
A Penha Grande é um morro granítico que sobressaia acima da linha da serra, quando se olha para Castelo Novo, a partir da A23. O Santuário da Senhora da Penha ou da Serra situou-se primitivamente ali, onde também existem vestígios arqueológicos de um castro da Idade do Bronze, tal como o do Castelo Velho. Curiosamente, a lenda desta ermida tem muitas semelhanças com a da Senhora da Orada, situada não muito distante.
Mas a inquietação, em São Vicente da Beira, tem origem num fenómeno ainda não conhecido fora de portas.
Frequentemente, entre a meia-noite e a madrugada, avistam-se luzes muito fortes, na meia encosta acima do Caldeira, onde fica a serra dos Candeias, dos Barroso e dos Hipólito. São visíveis do Casal da Fraga, situado em frente, e já há numerosas testemunhas. As luzes são muito mais potentes do que as de um automóvel e avistam-se por alguns minutos e outras vezes durante horas.
Para terminar, deixo-vos com duas notícias de encontros imediatos, nesta encosta sul da Gardunha, publicadas no blogue : http://www-ufologia.blogspot.com/2010/05/misterios-da-serra-da-gardunha.html.


Foto tirada do miradouro da Baldaia. Penso que o penhasco mais alto é a Penha Grande.

Erguendo-se a 1225 metros de altitude, a serra da Gardunha é uma das elevações mais importantes da Beira Baixa, em Portugal. Os repetidos fenómenos inexplicáveis, os seus símbolos e arqueologia, fazem da serra um dos «pontos quentes» onde o fenómeno Ovni se manifesta com maior intensidade no país.
São comuns as histórias sobre misteriosas luzes que surgem no céu silenciosas e a grande velocidade, luzes que bailam em ângulos rectos perfeitos. Segundo curiosos e aficionados do fenómeno, as luzes podem ser vistas quase todos os dias a sair da serra, por volta das 23:00h, e, no regresso, por volta das 02:00h da madrugada. É entre Setembro e Dezembro a altura mais propícia para avistar estes fenómenos, segundo referia o «Guardião da Serra», o Sr. Américo Duarte.
Américo Duarte, era o maior estudioso sobre os mistérios da serra. Dedicou-se a estudar a arqueologia ali existente, como os fenómenos luminosos que eram observados á noite. Infelizmente já falecido, conhecia a serra como ninguém. Entre outras revelações, Américo Duarte confidenciou que certo dia teve um encontro imediato com um ser humanóide no quintal da sua casa. Foi esse ser que o levou um dia, a conhecer a base subterrânea de Ovnis que existia ali na serra. Segundo ele, aquela base era uma de quatro espalhadas pelo mundo, utilizadas pelos supostos seres para estudar o nosso planeta. Disse que, quando esteve no interior da base, viu uma espécie de galeria de naves espaciais num precipício, o que lhe impediu de prosseguir caminho. Também revelou que os objectos voadores entravam na montanha por desmaterialização. Dizia-se o escolhido ou contactado para guardar ou proteger a base que o interior da Gardunha guardava. Para sempre ficou conhecido como o «Guardião da Base».
Os últimos anos da sua vida, dedicou-os a tentar alterar o trajecto de um túnel que iria ser feito e trespassar a serra na localização exacta da suposta base subterrânea. Coincidência ou não, o projecto inicial foi alterado e desviado para outro local.

Em Setembro de 1996, Ricardo Machado Oliveira passava pela serra, mais precisamente no local designado por Cabeço da Penha, quando decidiu explorar uma gruta que existia ali perto.
Após ter entrado na gruta, Ricardo desmaiou. Quando recuperou os sentidos, encontrava-se num hangar subterrâneo enorme, onde observou diversas naves de forma oval e prateadas. De seguida foi confrontado com a presença de três espécies distintas de seres humanóides. Estes seres informaram Ricardo que eram parte de uma aliança de mundos interestelares associados para observar a Terra e que a base subterrânea onde se encontrava era uma das quatro bases de observação espalhadas pela Terra. Após isso Ricardo perdeu novamente os sentidos e quando acordou, já era de noite, e encontrava-se deitado no chão, no exterior da gruta.


É apenas o sol, por entre as ramagens dos pinheiros, no Ribeiro de Dom Bento.

sábado, 20 de novembro de 2010

Marmelada


Tive marmelos no Ribeiro de Dom Bento, fiz marmelada e já se comeu.
Trouxe mais marmelos da Oriana e voltei a fazer marmelada.
Dantes, fazer marmelada era uma empreitada, pois tirava-se a casca ao marmelo, o que tornava a tarefa muito custosa.
A minha irmã Celeste ensinou-me uma nova maneira, que aprendeu com pessoas, na Vila, e agora fazer marmelada é facílimo.
Lavam-se e limpam-se os marmelos, cortam-se às fatias, casca e tudo, excepto o caroço, e metem-se na panela de pressão. Já sei que a panela de pressão leva 3 quilos de fatias de marmelos e, como deito um terço do peso em açúcar, nem preciso de pesar.


Junta-se meio copo (pequeno) de água, um quilo de açúcar amarelo, dois paus de canela e o sumo de um ou dois limões (pequenos).
Põe-se o lume no mínimo, sem apertar a tampa, até derreter o açúcar. Quanto estiver em líquido, aperta-se a tampa e deixa-se ferver, ainda em lume brando, pois a panela ficou muito cheia. Ferve perto de uma hora. Se a panela não estiver tão cheia, o lume pode ficar mais forte e o marmelo coze em menos tempo.
Depois tiram-se os paus de canela e tritura-se. Deixa-se arrefecer um pouco e coloca-se nas malgas. Como leva pouco açúcar, não se conserva tanto tempo e o melhor é congelar uma parte. Fica bom na mesma.
Esta nova maneira de fazer marmelada tem a vantagem de aproveitar a casca, rica em substâncias nutritivas e que reforça o sabor do marmelo.
A minha marmelada fica em ponto de barrar o pão. Quem a quiser mais seca, basta deixar ferver mais tempo, depois de triturar, mas mexendo frequentemente.



Receita:
3 kg de fatias de marmelo
1 kg de açúcar (os gulosos devem juntar mais)
1 limão (sumo)
2 paus de canela
meio copo (pequeno) de água

Alteração após dois anos de experiência (6/10/2012):
Já só deito o sumo de menos de meio limão, pois fica menos ácida e mais cremosa. Uso sim a casa inteira do limão, cortada fininha, o que dá à marmelada um agradável sabor citrino.
Também não coloco a tampa na panela e assim a marmelada fica com a sua cor natural, amarela.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pneumónica 2

Os óbitos de Outubro

A freguesia de São Vicente da Beira registou, entre 1917 e 1919, uma média mensal de 4,8 óbitos, sem contar com Outubro e Novembro de 1918, os meses da gripe pneumónica. Nestes, o número de mortos subiu para 20, em Outubro, e 66, em Novembro.
Esta maior mortalidade em Novembro contraria a tendência nacional, em que o mês mais mortífero foi o de Outubro.
Como os registos do Hospital só nos dão informação detalhada de 4 óbitos por gripe pneumónica, temos de utilizar os registos paroquiais, que não apontam a causa da morte.
Nem todos morreram por gripe pneumónica, nestes dois meses, mas foram a quase totalidade. A gripe pneumónica atacou sobretudo os jovens e adultos jovens, pelo que temos de excluir os idosos, possivelmente já imunizados por uma epidemia da mesma doença ocorrida em 1889. Os bebés talvez também tenham sido vitimados pela gripe pneumónica, embora nestes não haja tantas certezas, pois ainda era habitual morrerem muito e raramente eram levados ao hospital.
Apresentam-se, hoje, os óbitos de Outubro de 1918. Transcrevem-se os nomes tal como foram registados.

02-10-1918: Leopoldina, de 1 ano, filha de Manuel Joaquim e Maria Domingas, naturais e moradores no Tripeiro.

02-10-1918: Maria, de 16 meses, filha de Antonio Soares cruz e Maria Serra, jornaleiros, naturais e moradores no Casal da Serra.

04-10-1918: Gracinda, de 4 anos, filha de Antonio Afonso e Maria da Conceição, jornaleiros, naturais e moradores no Tripeiro.

12-10-1918: Antonio, de 1 ano, filho de João Caio e Serafina da Conceição, jornaleiros, naturais e moradores no Casal da Serra.

12-10-1918: João Nunes, de 45 anos, solteiro, mendigo/jornaleiro, natural do Mourelo. Faleceu no Hospital, de febre paratifóide.

16-10-1918: Maria dos Anjos da Silva Leal, de 35 anos, casada, doméstica, natural dos Pereiros, filha de Joaquim da Silva Leal e Isabel Maria, proprietários.

22-10-1918: Jose Duarte Soalheira, de 70 anos, viúvo de Antonia Clara, jornaleiro, natural e morador em S. Vicente da Beira, filho de Francisco Duarte e Luiza Bernarda.

22-10-1918: Albertina, de 20 meses, filha de Francisco João e Joaquina Alves, naturais e moradores na Paradanta.

24-10-1918: Jacinta Maria, de 34 anos, casada com Joaquim Bartolomeu, natural e moradora na Partida, filha de João Alexandre e Joaquina Maria.

26-10-1918: Adrião Mateus, 27 anos, solteiro, jornaleiro, natural e morador em S. Vicente da Beira, filho de José Mateus e Maria Luxindra, também de S. Vicente.

26-10-1918: Maria de Oliveira, de 52 dias, filha de Lopo Vitorino e Carolina de Oliveira, naturais e moradores em S. Vicente da Beira.

28-10-1918: Maria Luisa, de 3 anos, filha de Alexandre Caio e Antonia Carlota, naturais e moradores no Casal da Serra.

29-10-1918: Maria Amalia Roque, de 21 anos, solteira, doméstica. Filha de Manuel Roque e Ludovina Varanda, moradores em S. Vicente da Beira, na Rua Nicolau Veloso.

30-10-1918: Emilia do Rosario, de 23 anos, doméstica, filha de Francisco Afonso e Maria Sebastiana, naturais e moradores no Tripeiro.

30-10-1918: Maria do Rosario, de 23 anos, doméstica, filha de Antonio Fernandes (já falecido) e Maria Ludovina, moradora em S. Vicente da Beira.

30-10-1918: Antonio Caio, de 16 meses, filho de Alexandre Caio e Antonia Carlota, naturais e moradores no Casal da Serra.

31-10-1918: Ana Ramalho, de 29 anos, doméstica, filha de João Ramalho e Maria de São Pedro, todos naturais e moradores no Casal da Serra.

31-10-1918: Antonio Lourenço, de 28 anos, natural do Tripeiro, filho de José Lourenço e Maria Joaquina, moradores também no Tripeiro.

31-10-1918: Antonio Candeias, de 14 anos, pastor, filho de Manuel Luis Candeias e Maria da Conceição, naturais e moradores em S. Vicente da Beira. Faleceu de gripe pneumónica, no Hospital.

31-10-1918: João Marcelino, de 25 anos, filho de Joaquim Marcelino e Maria Ana, todos naturais e moradores no Tripeiro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pneumónica 1

Óbitos no Hospital
Em Outubro e Novembro de 1918, estiveram internados, no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira, um total de 34 doentes, sofrendo 29 deles de gripe, pneumonia gripal, gripe brônquica ou bronco-pneumonia. Com diferentes diagnóstivos e complicações, a maioria destes terá tido gripe pneumónica e alguns uma simples gripe que, no entanto, os obrigou a internamento.
Os doentes ali internados, nestes dois meses, eram todos de São Vicente, ao contrário do habitual. Talvez se tenha evitado a deslocação de doentes e porque o Hopostal só tinha 10 camas e esteve com o pessoal auxiliar também doente, assim como quase toda a direcção.
Os (dois) médicos, então de serviço, só não conseguiram curar 4 dos seus doentes, que acabaram por falecer. Quatro é muito pouco, num universo de 86, a totalidade de mortos, na freguesia, durante esses dois meses. Mas a eles chegarei, noutro dia. Hoje, ficamo-nos pelos que faleceram no Hospital, todos de São Vicente da Beira. Faz agora anos, por estes dias:

31-10-1918: Antonio Candeias, filho de Manuel Luis Candeias e de Maria da Conceição, jornaleiros. Tinha 14 anos e era pastor.

01-11-1918: Francisco Jeronimo, filho de Jose Jeronimo e de Olalia da Conceição. Tinha 26 anos, era cultivador e estava casado com Maria da Luz Romualdo.

08-11-1918: João Agostinho, filho de Andre Agostinho e de Maria da Conceição. Era sardinheiro e tinha 19 anos.

18-11-1918: Maria de Jesus Hipolito, filha de Joaquim Hipolito de Jesus e de Maria Antonia. Tinha 30 anos(35, segundo o registo da Igreja), era doméstica e estava casada com Joaquim Maria dos Santos Caio, funileiro e, na época, enfermeiro do Hospital. Deixou dois filhos menores: um, com 5 anos, Joaquim Caio; outro, com 7 anos, João Caio. Na sessão ordinária de 12 de Janeiro de 1919, a gerência do Hospital deliberou autorizar o enfermeiro a comer no local de trabalho, descontando-se-lhe do ordenado.

Nota:
O óbito de Francisco Jerónimo está registado no Hospital e na Igreja Matriz, mas levanta-nos, a nós Jerónimos, uma questão que ainda não consegui esclarecer, embora já tenha ido falar com a minha tia Eulália(como a avó).
Jose Jeronimo e Olalia da Conceição tiveram pelo menos 6 filhos: a minha avó Maria do Rosário Jerónimo, a tia Rosa Jerónimo (mãe de Maria do Céu Jerónimo Matias), o tio João Jerónimo (dos Arrebotes), o tio Miguel Jerónimo (do Cimo de Vila)o tio Albano Jerónimo e este Francisco Jerónimo. Só que ele foi combater para África, talvez na 1.ª Guerra Mundial, casou lá e nunca mais voltou. Os irmãos colhiam a azeitona da sorte dele, herdada dos pais, um ano cada um. Depois, devem ter dividido o terreno, entre si.
Por outro lado, Maria da Luz Romualdo, que ainda conheci moradora no Ribeiro de Dom Bento, foi casada com outro homem, de quem teve filhos. É possível que tenha voltado a casar, até porque os registos consultados não referem filhos menores que Francisco Jerónimo tenha deixado.
Mas, o mesmo Francisco Jerónimo, com duas vidas? Impossível. Irmãos? É possível!

sábado, 13 de novembro de 2010

Nas XXII Jornadas de Medicina

Acabo de chegar das XXII JORNADAS DE MEDICINA DA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI, realizadas, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, nestes dias 12 e 13 de Novembro de 2010.
Tive a companhia de Albano Mendes de Matos, habitual nestas Jornadas, há muitos anos. Albano de Matos é natural do Casal da Serra e vive na região de Lisboa. Em anos anteriores, já fez comunicações sobre temas da sua terra natal.
Apresentei, oralmente, o estudo A GRIPE PNEUMÓNICA EM SÃO VICENTE DA BEIRA, da minha autoria e do meu filho Tiago Rodrigues Teodoro. O trabalho precisa ainda de ser aprofundado e escrito, para depois ser publicado, nas próximas jornadas, daqui a um ano, na Revista CADERNOS DE CULTURA, onde anualmente se publicam as intervenções do ano anterior.
Este estudo tem por base consultas que fiz no Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, a quem agradeço, na pessoa do Provedor Pedro Matias, toda a disponibilidade manifestada. Também consultei os livros de registos dos óbitos da Paróquia de São Vicente da Beira, graças à boa vontade do pároco, o Pe. José Manuel, a quem também deixo o meu bem-haja.

A gripe pneumónica atacou Portugal em três vagas: a 1.ª, em Maio a Julho de 1918, bastante benigna; a 2.ª, em Outubro e Novembro desse ano, desta vez muito mortífera; uma última, em Fevereiro e Maio de 1919, novamente pouco violenta.
Na nossa freguesia, apenas em Outubro/Novembro de 1918 a gripe pneumónica foi fatal, tendo-se, nos outros dois períodos, confundido com as gripes normais da época.
Brevemente, publicarei informações de que já disponho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Insa

As matações juntam novos e velhos, alguns de convívio diário, mas outros que só se vêem de ralo em ralo. Por isso, contam-se sempre muitas histórias antigas.
Numa em que participei, já lá vão uns anos, o matador era o Insa, que nos contou a história da alcunha da sua família.
No início do século (1918) grassava a pneumónica e poucos foram os que ela não amarrou à cama. Um deles fora o seu avô, Francisco Marques, morador no Casal da Fraga, que passou largo tempo no Hospital da Misericórdia de São Vicente da Beira.
Quando o iam visitar, mandava toda a gente embora, «...porque senão insa tudo daqui até ao Casal!»
E ficou o Insa, talvez porque já poucos soubessem o significado da palavra que ele usara.
Regressado a Castelo Branco, fui consultar o Dicionário Morais, à Biblioteca Municipal. Lá estava, insar significa infetar.
Tinha razão o Francisco Marques e não era caso para lhe porem tal alcunha!

sábado, 6 de novembro de 2010

A Canada do Carqueijais

Provisão que alcançou o Capitão-Mor desta vila, Francisco Caldeira de Brito, pela qual sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, lhe há por confirmada a canada de seus gados(…)

Dom José, por graça de Deus, rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África senhor da Guiné (…), faço saber que Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz Albuquerque, Capitão-Mor da vila de São Vicente da Beira, me representou por sua petição que, tendo contígua às casas em que assistia na dita vila, uma fazenda grande cercada de parede, com currais de gado, no fim, onde mandava sempre recolher um rebanho de cabras, para adubar a dita fazenda, donde saíam para matos baldios da serra e se recolhiam para os mesmos currais todos os dias, sem fazerem prejuízo mais do que passarem por baixo de alguns castanheiros e na maior parte por estrada publica, e não podendo usar daquela passagem, por ter proibido o Corregedor* daquela Comarca*, em Capítulo de Correição*, entrar nos soutos gado, requereu à Câmara da referida vila lhe assinasse canada para passar o dito rebanho aos referidos matos baldios, consentindo os donos dos ditos castanheiros unicamente interessados e obrigando-se o suplicante a pagar-lhes todo e qualquer prejuízo que o dito gado fizesse, avaliado logo sem estrépito, nem figura de juízo, ficando nestes termos em seu vigor o referido Capítulo de Correição, que o mesmo suplicante de modo nenhum queria contrariar, antes com licença do mesmo Corregedor se assinasse a referida canada, que com efeito nesta forma se mandava pela dita Câmara assinar, como se via do despacho que ajuntava, e porque a tudo o mandado no dito despacho tinha o suplicante satisfeito, que era a licença do Corregedor, como mostrava o despacho deste, dado na petição que oferecia, constando igualmente de outros documentos, que também juntava, terem consentido todos os donos dos ditos castanheiros (…) hei por bem fazer-lhe mercê confirmar como com efeito confirmo e hei por confirmada a licença que a dita Câmara lhe deu na forma que o suplicante pede, cumprindo-se esta Provisão(…).
São Vicente da Beira, 9 de Setembro de 1773
Ferraz de Vasconcellos*
Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz*
Cláudio António Simões*


Vocabulário:
Cláudio António Simões – Escrivão da Câmara, em 1773, era filho de Manuel Lopes Guerra, que deu nome à rua Manuel Lopes, e sobrinho de Manuel Simões, que deu nome à rua Manuel Simões.
Comarca – Circunscrição judicial. A comarca de Castelo Branco, a que o concelho de S. Vicente da Beira pertencia, ia desde Vila Velha de Ródão até ao Sabugal.
Corregedor – Autoridade máxima da Comarca, representante regional do poder central, com funções político-judiciais.
Correição - Visita do corregedor à comarca, no exercício de suas atribuições. Dessa forma, a correição é um ato que visa a correção de condutas e que está ligada ao exercício do poder disciplinar.
Ferraz de Vasconcellos – Na época, era o Juiz de Fora do concelho de S. Vicente da Beira. Representava o poder central e presidia à Câmara e ao Tribunal. Respondia perante o Corregedor.
Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz – Era natural da Sertã e casou com a filha de uma das famílias mais ricas da Vila. Desempenhou o cargo de Capitão-Mor, o posto máximo do comando militar no concelho. O 1.º visconde da Borralha era seu neto e também se chamava Francisco Caldeira, tal como o 3.º visconde.


Muro exterior do cabanão da Quinta Nova, onde os descendentes de Francisco Caldeira guardavam os gados, nos séculos XIX e XX, tal como ele o fazia, em 1773.


Primeira página do documento acima transcrito. Clicar na imagem, para conseguir ler. Do Livro Geral das Leis e Ordens (1769-1774), folha 135, Câmara Municipal de S. Vicente da Beira, Arquivo Distrital de Castelo Branco.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Mel e a Cera

Já se encontra publicado, on line, o artido sobre os muros-apiários da região de Castelo Branco. O capítulo 2. desse trabalho é o meu contributo para o estudo da produção do mel e da utilização da cera, ao longo dos séculos, nesta região. Tem abundante informação sobre o antigo concelho de S. Vicente da Beira.
Recebi a seguinte nota informativa, que reproduzo, para um melhor esclarecimento:


A Associação de Estudos do Alto Tejo comunica que o n.º 3 da revista AÇAFA On Line, correspondente ao ano de 2010, já está disponível na sua página em:
www.altotejo.org
Diferentemente das duas edições anteriores, este número ficará em construção até final do corrente ano e é dedicado ao tema "Muros-apiários. Um património comum no Sudoeste Europeu".
Os muros-apiários são construções, em pedra ou taipa, formando cercados, e ocorrem em várias regiões da Europa e do Mediterrâneo. Têm como função proteger os colmeais contra diversos tipos de agressões, entre as quais se perfilam alguns mamíferos, com destaque para os ursos.
Este processo de proteger os apiários, cercando-os com altos muros, não é único, existindo outros tipos de construções com idêntico propósito, mas será talvez um dos mais representativos à escala europeia, desde a Península Ibérica até às Ilhas Gregas.
Em Setembro de 2010, a Associação de Estudos do Alto Tejo, o Parque Arqueológico do Vale do Côa e a Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa organizaram um colóquio sobre o tema, no quadro das Jornadas Europeias do Património. Os nove textos que abrem este número, a seguir indicados, corporizam as actas daquele Colóquio.
Em caso de dificuldade de acesso aos textos a partir da nossa página, recomendamos a descarga para o computador pessoal e a abertura dos PDF a partir daí.

LES ENCLOS À ABEILLES, Gaby Roussel.

LES APIERS DE LA HAUTE VALLÉE DE LA ROYA, Luigi Nino Masetti.

LOS COLMENARES TRADICIONALES DEL NOROESTE DE ESPAÑA, Ernesto Díaz y Otero y Francisco Javier Naves Cienfuegos.

MUROS APIÁRIOS NA GALIZA INTERIOR: OS ALVARES DO CAUREL, Lois Ladra e Xúlia Vidal.

MUROS-APIÁRIOS DAS SERRAS DO ALVÃO E MARÃO: CONTRIBUIÇÃO PARA O SEU ESTUDO E PRESERVAÇÃO, António Pereira Dinis e A. Mário Dinis.

OS MUROS-APIÁRIOS DO PARQUE ARQUEOLÓGICO DO VALE DO CÔA, Dalila Correia.

OS MUROS-APIÁRIOS DA REGIÃO DE CASTELO BRANCO E ZONA ENVOLVENTE, Francisco Henriques, João Carlos Caninas, Mário Lobato Chambino, José Teodoro Prata e José Joaquim Gardete.

OS MUROS APIÁRIOS DO PARQUE NATURAL DA SERRA DE SÃO MAMEDE E SÍTIO DE SÃO MAMEDE, Joana Salomé Camejo Rodrigues e João Carlos Neves.

PRESENÇA HISTÓRICA DO URSO EM PORTUGAL E TESTEMUNHOS DA SUA RELAÇÃO COM AS COMUNIDADES RURAIS, Francisco Álvares e José Domingues.


Foto de grupo, com parte dos intervenientes no colóquio de Foz Côa junto a um muro-apiário do Vale do Côa.

Nota: Aceder ao AÇAFA on line, através do site www.altotejo.org. Depois seleccionar o site Associação de Estudos do Alto Tejo. Uma vez lá, procurar, à direita, o AÇAFA n.º 3. Clicar e depois escolher e clicar de novo.